terça-feira, 24 de junho de 2014

Queijo vegetal de pinhão e semente de girassol (Pine nut and sunflower seed vegan cheese)





Aqui vai minha terceira desventura no reino encantado dos queijos vegetais. Um reino tão cheio de passagens secretas e combinações de segredos para suas portas trancadas que, às vezes, é mais fácil recorrer aos queijos animais, mesmo que tragam malefícios à sua saúde.
Como veio a calhar, vou lhes contar que, nos últimos dias, tenho conseguido manter uma dieta 90% livre de lactose e isso se deve ao fato de que minhas aulas já acabaram, não há mais tentações debaixo do meu nariz. Assim, consigo preparar meus substitutos vegetais e não sentir falta dos outros alimentos.
Meu primeiro queijo vegetal foi um queijo cremoso de castanha-de-caju, à base de rejuvelac e mal-sucedido - preciso de novas tentativas com esse caldo fermentado de trigo. O segundo foi de macadâmias, à base de ágar-ágar, textura boa, mas de sabor um pouco decepcionante.
Já este terceiro me conquistou, é o único que não se baseia somente em oleaginosas. Este queijo vegetal é essencialmente produzido a partir de sementes, isto é, a semente seca da flor de girassol e a semente cozida da araucária. Portanto, é um queijo nut-free e que possui um custo de produção menor (nem vou comparar os preços dessas sementes aos da castanha e da macadâmia).
E o que faz esse queijo tão especial? O seu sabor final me traz lembranças da maravilhosa cozinha árabe e do oriente médio com o alho cru, o azeite, o limão, etc. Se quiser exaltar essas características árabes, sinta-se livre para acrescentar um pouco de tahine orgânico. A textura do queijo é um tanto ambígua; firme o suficiente para cortar em fatias, mas cremoso o bastante para espalhar no pão. Deu para entender? Heheh.
Outras adições interessantes a meu ver: pimenta calabresa em flocos, azeitonas, cebolinha, coentro, curry, páprica, sumac, zattar, ervas finas, orégano, tomilho, óleo de gergelim. A receita original, publicada por Bia Gonzaga, contém fumaça líquida (obtida da condensação de vapores da queima de madeira), mas isso me parece mais um ingrediente para caldeirão de bruxa, por isso omiti.


Queijo vegetal de pinhão e semente de girassol

250g de pinhão cozido e descascado
100g de semente de girassol
2 dentes de alho
3 ramos de salsinha (folhas e talos)
1 colher de sopa de linhaça
2 colheres de sopa de missô
1 colher de sopa de sopa de cebola em pó
4 colheres de sopa de azeite extravirgem
1 limão
1/4 colher de chá de sal marinho
1 colher de sopa de molho inglês
1 colher de chá de gengibre em pó
Pimenta-do-reino preta moída
Pimenta tabasco

No dia anterior, cozinhe o pinhão na pressão com bastante água até que fique macio. Deixe a semente de girassol de molho até a manhã seguinte. Descasque os pinhões e escorras sementes de girassol. Em um processador, coloque o pinhão, a semente de girassol, o alho, os talos de salsinha e a linhaça. Processe até virar uma massa. Quando a mistura parecer muito seca e não processar mais, desligue o aparelho e acrescente o misso, o azeite, o suco do limão e a sopa de cebola em pó. Processe até ficar cremoso e homogêneo. Por último, junte as folhas de salsinha, o molho inglês, o gengibre, as pimentas e um pouco de sal se achar necessário. Processe novamente. Coloque num recipiente untado com azeite e aperte bem, evitando deixar bolhas de ar dentro da massa. Reserve na geladeira por 2 horas, desenforme. Guarde tampado, sob refrigeração.



quarta-feira, 11 de junho de 2014

Criatividade e biscoitos Calipso falsários (Calipso copycat sables)

Não posso fazer afirmações generalizadas sobre a sociedade e possuindo uma necessidade intrínseca à minha pessoa de fazê-lo, dar-me-ei o direito de fazer algumas. Será que todas as pessoas sofrem dessas marés de criatividade como as que me atormentam com suas altas e baixas temperamentais? Fico procurando nos cantos do meu cérebro exemplos de grandes criadores, pensadores e filósofos que tenham sofrido com falta de criatividade e, então, percebo que sou uma completa iletrada em questão de ideias e teorias de filósofos, pensadores, físicos e criadores. Por que cargas d'água me preocupo se conheço ou não essas grandes ideias universais? E o meu alterego paladino da paz mundial responde, "Porque você quer saber tudo que há para saber, para poder aproveitar para si e doar para os outros tudo que o que há de bom na vida. E, principalmente, porque você é uma pessoa que se alimenta de conhecimento, seja empírico ou filosófico, e como de conhecimento empírico já basta a cozinha, falta-lhe o conhecimento filosófico". "Adoro essas nossas conversas, they shed such a light on myself".

Voltando à questão da criatividade. Quando nossos talentos de criação nos deixam desamparados por algum tempo, voltamo-nos às ideias de outros. A culinária é um exemplo perfeito de cópia e releitura, pois sempre buscamos receitas testadas e verificadas por outros para então aventurarmo-nos nas mesmas. É difícil, senão impossível, na culinária assim como em outras áreas de trabalho, que um item artístico seja original em sua totalidade. Sempre buscamos referência em outros trabalhos e essa busca e aplicação  pode ser descoberta, consciente ou não.

Assim surgiram estas cópias falsificadas, salafrárias, ordinárias, falsárias dos biscoitos Calipso, da Nestlé. A inspiração nasceu após comprar um pacote de biscoitos para fazer uma torta holandesa caseira e diga-se sorrateiramente que minha versão - apesar de derivada - fica muito mais saborosa. Às vezes, as cópias superam os originais. Todo mundo não acredita que é a Monalisa de Da Vinci lá no Louvre mesmo?

Obs.: Após algumas pesquisas, descobri que existem uns biscoitos Calypso nos EUA, de uma franquia de supermercados chamados Publix, que levam coco, nozes pecã e aveia - mas que não tem relação nenhuma com esta receita. Aqui está uma releitura dos biscoitos Calipso da Nestlé brasileira.


Biscoitos Calipso (tipo sablé)


2 gemas
80g açúcar refinado
80g manteiga (em ponto pomade)
120g farinha de trigo
4g fermento químico
1g sal
75g coco ralado seco
80g chocolate amargo

Peneire a farinha, o fermento e o sal. Branqueie as gemas com o açúcar com um fouet ou na batedeira, junte a manteiga pomade. À mão, junte a farinha e o coco seco e misture bem. Deixe descansar na geladeira por pelo menos 30 minutos. Forre uma assadeira com silpat ou papel manteiga. Abra a massa com um rolo até atingir 3mm de espessura, corte com o cortador desejado e disponha na assadeira com uma distância de 2 cm entre si. Deixe descansar por mais 30 minutos na geladeira,

enquanto isso pré-aqueça o forno a 170ºC. Asse por aproximadamente 15 minutos ou até as bordas começarem a dourar levemente. Não deixe dourar demais ou ficarão com sabor queimado.


Esfrie os biscoitos sobre uma grade. Derreta e tempere o chocolate (ou use chocolate tipo cobertura) e cubra os biscoitos sem deixar escorrer pelas laterais. Enquanto ainda não estiver cristalizado, use um palito de dente para fazer o desenho característico dos Calipso: faça três riscos de um lado, vire 90º e faça mais três riscos. Rende 25 biscoitos.