sábado, 20 de outubro de 2012

Petiscaria Casa de Massas e influências de Ruth Reichl

Hoje fui almoçar em um restaurante, se posso chamá-lo assim, muito interessante no centro de São Paulo. Esse restaurante chinês se chama Petiscaria Casa de Massas (não me pergunte o porquê) e serve alguns pratos bem interessantes, não fiz uma lista dos pratos principais servidos e dos preços e nem tirei fotos. Certo, certo, deveria tê-lo feito, mas já que não fiz, vou colocar o link para um texto do Marcelo Katsuki, que recentemente esteve lá e fez uma cobertura mais completa que a minha. O restaurante fica na Praça Carlos Gomes, número 139, na Liberdade, quase em frente ao famosíssimo Chi Fu. Deparei-me com o lugar quando voltava de uma das minhas incursões à Liba, quando fui almoçar no Hachi Crepe e Café (recomendo e estará incluso num post futuro).

Experimentei dois pratos, o lámen de carne suína e o arroz com curry e carne suína. Tirando a dificuldade de comunicação com a atendente do local e o fato de que aceitam apenas pagamento em dinheiro, os pratos estavam realmente bons, chegaram rapidamente e por um preço amigável, tão amigável quanto a atendente que não fala português. O local é pequeno, deve ter umas quatro mesas, e fez com que eu me sentisse a estrangeira out-of-place em um país asiático quando pedi por um garfo e faca para dividir a porção de lámen com meu irmão. Isso mesmo, enrolei o macarrão no garfo fazendo jus às minhas raízes ítalo-brasileiras. Juro que depois usei hashi.

O arroz com curry serve duas pessoas facilmente, custa R$ 20,00 e vem exalando aquele perfume maravilhoso de especiarias indianas, misturado com cebolinha, cenoura, ovos, carne de porco e cebola. Como é bem soltinho e em nada se assemelha ao gohan japonês, pode ser um problema comê-lo com palitinhos. Já o lámen custa R$ 14,00 e serve como uma refeição completa, o macarrão com caldo vem com broto de feijão (moyashi), carne de porco, acelga chinesa (bok choy), um ovo de pata cozido no chá, dois camarões no vapor e não posso afirmar com absoluta certeza, mas havia um pedacinho perdido de shitake hihi :p.

Essa foi a primeira vez que comi ovo de pata, como descobri que era ovo de pata? Liguei os pontinhos e completei o desenho da patinha no meu caderno de colorir: foi o melhor ovo que comi na minha vida e ninguém esperaria ouvir isso de um ovo cozido, afinal, ovo cozido não deveria ser sem graça? Hum... ele foi cozido no chá e provavelmente devem ter adicionado shoyu e outros temperos. Geralmente, acrescenta-se canela, cravo e anis aos ovos chineses cozidos no chá, que são vendidos em mercados de rua. Mas só os temperos fariam desse o melhor ovo de todos os tempos? Acho que não. A sua clara era reduzida em comparação com um ovo normal e mais rígida. O ovo, de tamanho ligeiramente avantajado, era praticamente só gema, incrivelmente saborosa e cremosa. Bateu com o ovo de pata! Entre outras características, ele contém mais gordura que o ovo de galinha tradicional. Gordura é igual a sabor que é igual ao melhor ovo ever.

Eu tenho uma mania ruim comum a pessoas com síndroma de pensamento acelerado (tô tirando contigo não, isso existe) de perder o interesse por algo depois de experimentá-lo. Depois de ir a um restaurante, café, ou o que seja, que estava na minha listinha pessoal, dificilmente voltarei a esse lugar, por mais incrível que tenha sido a experiência. Vejam do meu ponto de vista, existem tantos outros lugares maravilhosos esperando para serem descobertos e eu vou me dar ao luxo de ir duas a vezes ao mesmo?! No entanto, posso afirmar com certeza que voltarei lá mais vezes, quero experimentar tudo que têm a oferecer, baozi, guiozá, udon, panqleca com ceborlinha, canja com ovo negro, leite de soja salgado. Quero fechar o pacote completo.

Acho que isso são influências de Ruth Reichl, ex-crítica do New York Times. Estou lendo seu romance autobiográfico "Alhos e Safiras: A vida secreta de uma crítica de gastronomia disfarçada" ("Garlic and Sapphires: The Secret Life of a Critic in Disguise") e adorando o livro, depois comento mais sobre o enredo. O fato é que uma crítica de gastronomia não pode fazer seu julgamento baseado em apenas uma visita a um restaurante e tendo provado um ou dois pratos. Aprendi que ela retorna aos estabelecimentos, quatro ou cinco vezes por exemplo, para checar tudo o que é oferecido no cardápio, observar melhor o atendimento, etc., e só então dar o veredito final.

Não me considero uma crítica, longe disso, estou apenas começando a dar atenção aos prazeres da comida, mas acho que essa técnica é totalmente válida para qualquer restaurante. Não importa se a primeira vez foi péssima ou sensacional, cheque mais uma vez para ver se vai ser duradouro ou se foi um affair de uma noite só.

___________________________________________

Atualização 4/11/2012 15:26

Voltei ao restaurante na última quarta-feira de sol infernal em São Paulo e tomei um udon de carne de porco. Chamem-me de insana por saborear um prato quente fervente naquele dia, mas eu estava com vontade, oras. Tirei uma foto dessa vez. Estava esperando o macarrão udon japonês, mas vieram no caldo wontons achatados de carne de porco, moyashi, uma verdura que parece cebolinha mas não faço ideia do que seja (?) e, como adicional, pedi o ovo de pata cozido no chá. Um cumbucão para alimentar qualquer trabalhador braçal por dez pila. Saí de lá com a barriga quente e um sorriso no rosto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário